quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Você perderá seu emprego para a automação?


José Pastore* - 
- O Estado de S.Paulo

Entre 2020 e 2022, estima-se que 42% dos conhecimentos requeridos pelas profissões atuais serão modificados

Os estudos sobre os impactos das tecnologias sobre o trabalho são contraditórios. Ao lado dos catastrofistas que preveem uma grande destruição de empregos nos próximos dez anos (Carl B. Frey e Michael A. Osborne, The future of employment, 2013), há os otimistas que enxergam mais empregos gerados do que eliminados (Philippe Aghion e colaboradores, What are the labor and product market effects of automation?, 2020).

Na semana passada, os especialistas reunidos no Fórum Econômico Mundial assumiram duas posições realistas. Na primeira, reconheceram haver um consenso sobre a necessidade de requalificar os trabalhadores para o mundo do futuro. Na segunda, apontaram a importância da participação das empresas nesse processo. E, de modo ousado, lançaram a meta de requalificar 1 bilhão de trabalhadores entre 2020 e 2030!

Durante o encontro foram citados vários exemplos de participação das empresas, tais como o movimento Pledge to America’s Workers, nos Estados Unidos, no qual 400 firmas estão requalificando 15 milhões de trabalhadores; o programa de requalificação da British Telecom (BT), que faz o mesmo com 10 milhões de profissionais; e a empresa PwC, que está investindo US$ 3 bilhões em requalificação de funcionários e usuários de seus serviços.

No processo de requalificação há um componente de urgência, porque as mudanças são meteóricas. Entre 2020 e 2022, estima-se que 42% dos conhecimentos requeridos pelas profissões atuais serão modificados. As exigências aumentarão nos campos do raciocínio, da tomada de decisões, da capacidade para trabalhar em grupo e habilidade para transferir conhecimentos de uma área para outra. Será crucial saber pensar, e pensar bem.

Neste novo mundo o conhecimento tomará lugar do diploma. E a aquisição do conhecimento virá de um processo contínuo no qual os trabalhadores ficarão em treinamento a vida toda. Para tanto, será indispensável uma boa articulação das empresas com as escolas e as ações dos governos. É um processo caro, que exigirá muitos bilhões de dólares. Mas, adverte-se, a inação custará mais caro: a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que, se a requalificação não for feita, os países do G-20 perderão US$ 11 trilhões na próxima década.

Ao lado dessa gigantesca perda econômica, há outra, ainda maior e de natureza política. Na ausência da referida requalificação, os trabalhadores ficarão sujeitos ao desemprego ou ao trabalho precário, com renda baixa e sem perspectiva de melhoria. Isso gera um descontentamento generalizado que deságua frequentemente no questionamento do sistema capitalista e no surgimento de líderes populistas que põem em risco a própria democracia. Não faltam exemplos na atualidade.

Convenhamos, se deixarmos para as próprias pessoas resolverem esses problemas dizendo que elas têm de se ajustar por si mesmas, abriremos a porta para as demagogias e a insegurança. Daí a necessidade inarredável da requalificação como processo contínuo. É um desafio gigantesco.

No Brasil temos, ainda, a missão de melhorar a qualidade do ensino convencional em vários níveis. Entretanto, não podemos parar nisso. Felizmente, já há algumas empresas bem atentas e que vêm implementando programas de requalificação profissional como rotina. Cito como exemplos a Embraer, a IBM e vários bancos. Em Santa Catarina, 260 empresas trabalham em parceria com Sesi, Sesc, Senai e Senac na qualificação e requalificação dos seus empregados (www.santacatarinapelaeducacao.com.br). Esses exemplos precisam se multiplicar. Afinal, a Revolução 5.0 está na esquina.

*Professor da Fea-Usp, membro da Academia Paulista de Letras, é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Nova realidade: Idosos e mercado de trabalho

Editorial | Folha de S. Paulo
Com aumento de idosos, país precisa de políticas para empregar os mais velhos

A população brasileira vive um processo acelerado de envelhecimento e projeções do IBGE apontam para um salto na quantidade de pessoas com 65 anos ou mais de 9,8% neste ano para 20% em 2046. Em 2060, cerca de um quarto do total entrará nessa faixa etária.

Apesar do prognóstico, o Brasil carece de um debate mais maduro sobre políticas que possam garantir um envelhecimento digno a todos. Aqui, não se trata de falta de leis, pois desde 2003 os que têm 60 anos ou mais contam com uma série de direitos assegurados pelo Estatuto do Idoso.

Entre eles, há gratuidade no transporte público, vagas exclusivas, meia-entrada em atividades culturais, acesso a remédios e pensão alimentícia a quem não consegue prover o seu sustento.

Embora necessárias, essas políticas assistenciais podem não ser suficientes diante dos desafios de empregabilidade que os idosos agora têm após a aprovação da reforma da Previdência. Para se aposentar, as mulheres deverão trabalhar até os 62 anos; os homens, até os 65.

Muitas vezes ignorado no debate sobre discriminação, o preconceito etário é uma realidade dura para muitos idosos à procura de emprego, além de configurar crime punível com seis meses a um ano de reclusão pelo Estatuto do Idoso.

A criminalização, porém, não dá conta de combater os vieses etários no setor privado, pois é intrínseco do preconceito encontrar formas sutis de praticar a discriminação, o que dificulta atestar na prática casos em que há violação da lei.

Combater isso requer, entre outras medidas, melhorar processos seletivos para valorizar a experiência adquirida pelos mais velhos e desenvolver habilidades desse público para encontrar vagas.

A perpetuação do preconceito contra pessoas idosas também não deixa de ser danosa para a economia, já que priva o mercado de profissionais bastante capacitados.

Atentas a esse fato, as universidades brasileiras já aumentaram, entre 2010 e 2017, o total de professores com 50 anos ou mais de 33,7% para 37,9% nos cursos de graduação e pós-graduação.

Em um mercado de trabalho cujo futuro prevê a extinção de carreiras tradicionais, cabe ao poder público pensar políticas de capacitação para a população idosa, mas sem deixar de cuidar daqueles em situação de vulnerabilidade —em 2018, segundo dados oficiais, houve aumento de 13% nos casos de violência contra idosos no país.

Sem medidas para o crescente índice de abandono e de maus-tratos contra a população mais velha e políticas para melhorar sua empregabilidade daqui em diante, muitos dos direitos dos idosos podem acabar limitados apenas à letra da lei nas próximas décadas.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O “EMPREENDEDORISTA”


 
Proponho um novo olhar sobre o empreendedor. Um neologismo com um sufixo “ista” para personificar de forma mais abrangente os desafios, densidade e peso do perfil de qualquer pessoa, em uma organização ou não, que queira fazer uma coisa bem feita, uma realização eficaz, eficiente e competitiva.

 Entendo que o ato de querer fazer algo bem feito (empreender) possa ser resumido em três dimensões simples, porém essenciais: REALIZAR, RISCO E RESILIÊNCIA.

 Proponho, ainda, considerar que o ato ou a vontade de empreender não deva, necessariamente, estar atrelado à liderança, afinal muitas das “inovações” em métodos ou em maneiras de se fazer algo bem feito ocorrem com o indivíduo realizando algo ou solucionando uma complexidade de forma isolada. Três profissões com as quais tive breve contato exemplificam essa excelência de execução isolada: o soldador de estruturas submersas, o mantenedor de antenas de rádio difusão ou de telecomunicações e o mantenedor de “linhas quentes” em redes de alta voltagem: não há como se ter alguém próximo para “se liderar”.

 Proponho, ainda, não se “engessar” o entendimento e a aceitação geral de que o empreendedor é, necessariamente, um inovador. Os clientes finalísticos que, eventualmente, irão se aproveitar do bem ou do serviço (produto) “inovador” tem um poder aquisitivo, em média no Brasil, pouco superior ao salário mínimo (dados do IBGE, PNAD, CNI, CNS, etc.). Ademais inovações em produtos (bens ou serviços) requerem comprometimentos e contratos com uma considerável cadeia de valor de produção de insumos cujas condições para entregas desses insumos são celebradas e firmadas nos exercícios de anos anteriores ao lançamento dos produtos já conhecidos do consumidor. Portanto, um “produto inovador” poderá impactar, sobremaneira, as atividades de produção daqueles insumos que serão a base para elaboração e entrega ao cliente finalístico.

 Por outro ângulo, inovação em produtos (bens ou serviços) requerem escolhas. Das escolhas virão as trocas de um produto ao qual o cliente já está habituado e confia. Ele trocaria por um produto inovador que, por ser inovador, ele desconhece? Por outro lado, a existência do risco (realização, risco e resiliência) é considerada com base no poder aquisitivo, pois o produto anterior além de conhecido e de resultados previsíveis “cabe no bolso” do cliente.

 O empreendedor, também, precisa ser um ESPECIALISTA no bem ou no serviço que pretende inovar, pois o CONHECIMENTO sobre o mercado, sobre os limites e capacidades da empresa, sobre os impactos que a inovação incidirá sobre os setores da empresa, os fornecedores e o meio-ambiente precisam, necessariamente, ser considerados.

 O empreendedor precisa, ainda, ser um REALISTA, pois ao propor uma inovação em um bem ou um serviço, ele precisará considerar a capacidade que todos os setores da empresa, fornecedores e eventuais terceirizados terão ao dar apoio na produção do bem ou do serviço.

 Ao interagir com aqueles atores organizacionais (setores, fornecedores, etc.), o empreendedor precisará ser um ARTICULISTA pois entenderá as competências, dificuldades e desafios que aqueles terão para aderir e contribuir positivamente na entrega do bem ou do serviço demandado pelo cliente.
 Por fim, vivenciamos uma economia inexoravelmente mergulhada em elevada carga tributária que, por ser variável, incide sobre os custos básicos da elaboração do produto. Tal escorchante teia de encargos compromete, sobremaneira, o poder aquisitivo do eventual comprador da inovação. Assim, os RISCOS de insucesso são reais, objetivos e constantes. Dessa forma o empreendedor precisa ser RESILIENTE.

 Espero que você reflita sobe essa nova abordagem sobre o “EMPREENDEORISTA”, avalie e planeje seus próximos empreendimentos.

 Boa sorte e sucesso
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OCDE Brasil: Taxa de conclusão de ensino superior


De Ricardo Amorim:
"No Brasil, apenas 1/3 dos alunos terminam a faculdade no período programado. Mesmo 3 anos após o período programado, apenas metade dos alunos conclui o curso. Um dos grandes desafios para a educação brasileira nos próximos anos é reduzir a evasão..."
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*Não obstante PESADOS INVESTIMENTOS no FIES e equivalente, o cenário não demonstra possibilidade de recuperação plena no mercado de trabalho nos próximos anos.*
Os impactos na produtividade e na eficiência continuarão a ser significativos.
Desafio maiúsculo para administradores e empreendedores.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Checklist


Por Jefferson Santos

Em uma tradução livre, adequada para este contexto, seria uma "lista de verificações".

Um checklist retrata um sequenciamento lógico quando ações adequadas, praticadas em momentos oportunos e em uma sequência cronológica são realizados, de forma concatenada em uma "hierarquia" de fluidez e de funcionalidade.

É, também, uma lista em hierarquia de importância de atos a serem realizados, um APÓS outro, JAMAIS simultâneos. Em uma cabine de voo, sobretudo sob severas condições meteorológicas e de baixa visibilidade adiante, ainda que em período diurno, o "checklist" permite que o outro piloto confira (check!) ou realize os itens ao serem enunciados. Ao fim de cada etapa anunciam o "compliance" após concordarem e aceitarem a sequência como correta e adequada.

Em minha experiência como piloto voei mais de quinze aeronaves de categorias diferentes, entre aviões e helicópteros, mono e bi-motores e a doutrina intelectual de seguir, criteriosamente, os "checklists" sempre me deu a garantia de um voo seguro e consolidou aos demais a imagem de um profissional sério, dedicado, previsível e seguro. Enfim, um portfólio confiável e consistente.

Já em minha vida funcional e organizacional, chefiei mais de vinte setores e organizações distintas em natureza, porte e localidade. Os "checklists" sempre me deram tranquilidade e confiança para enfrentar todo e qualquer desafio, mesmo os intempestivos e inusitados.

Nas organizações, e também na atividade aérea, os "checklists" são estruturados na forma de diretrizes, manuais, normas e atualizados por circulares. A vantagem dos "checklists" é que não são engessados. Muito pelo contrário, são constantemente atualizados por intermédio de "lessons learned" ou lições aprendidas onde mudanças de contextos socioeconômicos são considerados. Novos conceitos e passos a serem seguidos são incorporados ou substituem os já sem pertinência ou validade.

Quanto às diretrizes, tais coletâneas enxergam e interpretam o cenário e orientam a interação mais adequada e oportuna, de toda organização, com o cenário do macroambiente e mercado onde a empresa está inserida.

Devem ser encaradas como uma lista de experiências anteriores de sucesso e insucesso refletidos e depurados, sempre em busca da eficiência, colocados no papel e assinados.

No âmbito interno organizacional servem como "bíblias" ou "teclas SAP" através das quais todo elenco de normas e circulares servem para traduzir as melhores práticas, as "best practices".

Dessa forma agregam valor e conhecimento ao incorporar experiências exitosas vivenciadas por outros anteriormente. Elas estabelecem o "modus operandi" através do qual o mercado vê, entende e aceita sua organização e a credibilidade do elenco de integrantes da empesa por intermédio da qualidade do bem ou serviço por ela produzidos.

Representam, também, uma sequência coerente e eficiente de atos que são entendidos e aceitos após certificados pela experiência funcional e vivencial de cada indivíduo ou setores envolvidos, diretamente, no processo.

Da mesma forma, garantem segurança até mesmo aos colaboradores recentes ou novos na empresa mesmo que estejam no dia anterior a uma grande e importante auditoria. Tive, como fato, recente experiência na empresa onde trabalhava cujos diversos setores enfrentaram vários problemas com auditorias externas por não serem seguidos passos elementares de suas próprias diretrizes e normas. Como resultado recebiam notificações com "não-conformidade" (com os próprios procedimentos estabelecidos em suas diretrizes organizacionais), fato que um "checklist" bem praticado certamente não dá espaço para tal acontecer.

Enfim, o que posso lhes dizer, por experiência de mais de trinta e cinco anos como PILOTO E GERENTE, é que "Sigam os checklists", pois são os "caminhos das pedras" para a eficiência, segurança, consistência, confiança e sucesso.

Bons Vôos, sucesso em seus projetos.

Capítulo integrante do livro: "Fora do Solo" de Jefferson W Santos ISBN: 978-85-924559-1-0